domingo, abril 16, 2006

Imagens em Palavras - 14/abr

Diário de bordo:


É tão estranho quando você tem que escrever alguma coisa sua pra alguém te julgar por isso. Esse passeio de metrô está mais divertido no momento. A cidade cinza no fundo, passando e passando. Tudo é tão silencioso nos feriados. A cada vez que olho as pessoas, os prédios, é como se existisse alguma esperança ali, mesmo que esteja ali, esperando indefinidamente...
Enfim esqueço e volto a me concentrar na carta. Escrevo tudo o que estou pelo qual estou passando ali. Uso termos técnicos para falar de termos pessoais. É meio que exaustivo colocar esses sintomas pra fora, mas não demoro a terminar a carta.
Fico pensando a respeito daquela senhora que diz poder curar tudo (será que pode mesmo?). Resolvo ir conversar com ela. Uma outra senhora, baixa e com um aspecto cansado e religoso, vestindo roupas pretas e carmim, com desenhos de cortina, uma manta de crochê, e um óculos, pendurado por um cordão preto ao pescoço, me recebe na cozinha da minha própria casa. Ela disse que a outra senhora está me esperando. Me conduz até o quarto que outrora tinha sido meu. Há uma pequena ripa de madeira embutida na parede atrás de onde deveria estar a cama. Ela retira a ripa e abre a porta para eu poder entrar no consultório. Pede para eu me sentar numa poltrona redonda, enquanto a senhora se prepara pra falar comigo. A outra senhora, a que vai me atender, tem uma estatura mais alta, mais fina, elegante, melhor arrumada. De costas ela me olha com o canto do olho e pergunta se estou preparado. Apenas confirmo com a cabeça. Ela vira a cabeça, e próximo ao que parece uma pia, ergue as mãos e inicia uma conversa com alguém.

- Pela graça de " * ", ajude este pobre garoto. Amém.

Então ela abaixa a cabeça, frustrada. Se aproxima de mim, e violentamente vira a poltrona, me derrubando no chão. Depois se vira de novo, e como que se contendo volta pro lugar onde estava antes, abaixando a cabeça, resignada. Ainda me levantando a primeira senhora entra no recinto novamente, pra me acompanhar pra fora. Tentado se desculpar, ela diz o significado daquilo:

- O que ela quis dizer é que você nao precisa disso, que está perdendo o seu tempo (e o dela). Você precisa de algo mais prático, que realmente vá fazer efeito na sua vida. E você sabe do que estou falando, não sabe?

Muitas imagens foram passando na minha cabeça. Pessoas que eu não conhecia, possibilidades, o passado, minhas vontades, meus problemas. Como se eu assistisse minha vida em apenas alguns segundos, e junto com ela trouxesse todos os destinos para cada atitude que poderia ter tomado na vida. Franzi a testa, me silenciei, achei que fosse desmaiar. Andei até a porta da cozinha, ela abriu a porta pra mim. Antes de eu fechar, ela já se afastava de mim, perguntou:

- Você sabe o que fazer, não?
- ... sim... Revolução!